O trabalho de investigação sobre o crime organizado e o tráfico
de drogas pode ter sido o motivo do assassinato do cabo da Polícia Militar de
Alagoas Paulo Sérgio dos Santos Oliveira, morto a tiros na madrugada do dia 04/junho/2012 numa emboscada no posto de combustíveis onde trabalhava como segurança,
em Chã do Pilar, região metropolitana de Maceió. A vítima teria descoberto o
envolvimento de policiais, políticos e empresários da região no mundo do crime.
Paulo Sérgio era policial há 20
anos e lotado na 4ª Companhia Independente de Atalaia, mas há oito meses não
usava a farda. Ele havia sido promovido para o departamento de inteligência da
corporação e se dedicava exclusivamente à investigação do crime organizado em
Pilar. Desde então, o militar vinha sendo alvo de diversas ameaças de morte e
por isso a família, que agora com medo vive em São Paulo, acredita que o crime
tenha sido uma queima de arquivo.
A denúncia sobre o motivo do
homicídio, formalizada por um dos irmãos da vítima, José Carlos dos Santos
Oliveira, foi encaminhada ao Grupo Estadual de Combate às Organizações
Criminosas (Gecoc), do Ministério Público, e à Ouvidoria-Geral do Ministério da
Justiça, que se comprometeram em dar celeridade nas investigações. No
documento, os parentes citam nomes de supostos envolvidos no assassinato.
“Meu irmão tinha contato direto
com a Força Nacional e com o trabalho de investigação descobria pontos de
tráfico, aonde a polícia ia em seguida fazer as apreensões. Isso começou a
pesar contra ele, porque as pessoas queriam matá-lo. Eu pedi para ele deixar
essa função, mas ele não queria e dizia que tinha nomes de políticos,
empresários e até policiais que participavam do mundo do crime organizado e
tenho a certeza de que foi por este motivo que mandaram executar meu irmão”,
desabafou José Carlos.
Por conta das novas funções
dentro da corporação, Paulo Sérgio precisou adotar algumas medidas de segurança
em sua residência, dentre elas a blindagem.
Troca
de plantão e a morte
Um dos fatos que causa
estranheza para o irmão é que Paulo Sérgio não deveria estar trabalhando
naquele dia. Segundo ele, o militar recebeu uma ligação de outro policial (que
também fazia bico como segurança no posto) pedindo que fosse para o serviço em
seu lugar. O cabo foi trabalhar por volta das 19h e por volta de 1h da
madrugada recebeu um telefonema.
“Segundo minha cunhada, esse
policial ligou para meu irmão que irmão estava deitado e tinha o costume de
tirar o colete a prova de bala e os pentes da pistola (uma glock .40). Quando
os assassinos chegaram, pediram água para o radiador do carro e foi neste
momento que meu irmão foi atingido por disparos efetuados por um dos
criminosos”, afirma José Carlos.
Toda a sistemática do crime
pode ser constatada pelas imagens de seis câmeras de segurança instaladas no
posto de combustíveis e que já estão em posse da Polícia Civil. No vídeo é
possível ver a dupla chegando ao local e, segundo uma análise do parente, Paulo
Sérgio os parece os reconhecê-los. Sem iluminação, o policial utiliza sua
pistola que possui uma lanterna acoplada e inesperadamente é atingido pelos
disparos efetuados por um dos assassinos.
A vítima ainda consegue atirar
contra a dupla que foge. Um deles é atingido e Paulo Sérgio ferido fica caído
no chão. Instantes depois, uma viatura da polícia chega ao local, mas é tarde e
a vítima já está em óbito. Até o momento, ninguém foi preso e as investigações
sobre o crime prosseguem na delegacia do Pilar.
Falhas na perícia e desconfiança da mulher do militar
No dia do assassinado, apenas a
pistola da vítima foi recolhida por peritos, o que a família considera uma
falha. Os dois aparelhos celulares de Paulo Sérgio não foram apreendidos para
quebra de sigilo telefônico e seguem com a esposa do militar assassinado,
identificada como Flaviana Acioli Oliveira. Mas o foco da família seria outro
equipamento, que pode ser a chave para a solução do crime.
“Um computador que era utilizado para trabalho pelo meu irmão
deveria ter sido recolhido pela polícia, isto porque nele constavam diversas
fotos e dados de bandidos de alta periculosidade e pessoas que eram alvo de
investigação. O equipamento estava na casa dele e minha cunhada apagou todas as
informações que estavam nele. O computador deveria ter sido apreendido pela
perícia, mas isso não aconteceu”, relata José Carlos.
Para a família, Flaviana Acioli
deve ser investigada. Isto porque, parentes do militar afirmam que ele o traía
e que ambos não mantinham um bom relacionamento matrimonial. “Ele me contou que
já não viviam bem. Visitei meu irmão em abril deste ano e escutei ela dizer que
‘em junho se livrava dele’. Não sei o que quis dizer com isso, mas tenho
certeza que ela sabia o que estava para acontecer com ele”, denunciou o
parente, afirmando que a cunhada tem depoimento agendado com Gecoc.
Família ameaçada no enterro volta para São Paulo
A despedida do irmão
assassinado traz outros traumas aos parentes. Vindos de São Paulo, local onde
residem há algum tempo devido à onda de violência em Alagoas, para o enterro,
os familiares não puderam ficar muito tempo na sua terra natal, Pilar. Isto
porque, ao desembarcarem no município foram ameaçados e praticamente
‘expulsos’.
“No dia do enterro, esse
policial que também trabalhava como segurança no posto chegou para nós disse
que já havia alertado meu irmão que o trabalho que vinha realizando era muito
perigoso, que estava mexendo com gente poderosa e com isso arrumaria muitos
inimigos. E foi isso que aconteceu. Fomos embora de Alagoas e não voltaremos
mais nunca”, disse.
O medo agora é que o pai da
vítima seja alvo da quadrilha de criminosos que age no Pilar. Ele ainda reside
no município.
Nota de
esclarecimento do IC
A Direção do Instituto de
Criminalística em relação à matéria publicada na manhã de hoje, 18, no portal
de conteúdo noticioso Cadaminuto, intitulada “Policial morto no Pilar
investigava políticos e empresários, diz parente”, precisamente no intertítulo:
“Falhas na perícia e desconfiança da mulher do militar”, esclarece que:
Diferentemente do que afirmou a
família na frase: “Os dois aparelhos celulares de Paulo Sérgio não foram
apreendidos para quebra de sigilo telefônico”, a apreensão e encaminhamento de
aparelhos telefônicos celulares para serem periciados competem à autoridade
policial, que os envia ao Instituto de Criminalística juntamente com a
autorização judicial para quebra de sigilo telefônico e posterior exame
pericial.
Que em relação à afirmação do
irmão da vítima José Carlos, o qual relata na entrevista que “O computador
deveria ter sido apreendido pela perícia, mas isso não aconteceu”, esclarecemos
que a equipe do Instituto de Criminalística realizou a pericia no local do
crime e que objetos que não estão com a vítima nesse local devem também ser
encaminhados para a perícia pela autoridade policial juntamente com a
autorização para a quebra de sigilo de dados. Pois como, o próprio irmão
afirmou na entrevista, o computador não se encontrava na cena do crime, e sim
na residência da vítima.
Por fim, esclarecemos que não
houve falha na perícia de local de crime e que a atual direção do Instituto de
Criminalística, trabalha buscando sempre o melhor desempenho de suas equipes na
prestação de serviços realizados a sociedade Alagoana.
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