quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Usina do governador Téo Vilela não paga, Eletrobras corta energia


Quem não paga a conta de energia elétrica tem o fornecimento cortado em no máximo 90 dias. Deveria ser assim para todo consumidor que não honra o pagamento das faturas. Mas para a indústria da cana-de-açúcar, ao longo de duas décadas e meia, tem sido diferente. 

Das 24 usinas de Alagoas, 14 estão na lista dos 100 maiores devedores da Eletrobras, a antiga Ceal. Nesse período, 8.142 cobranças foram ignoradas. Somada, a dívida dos usineiros, com juros e correção monetária, chega a R$ 128,8 milhões.

Na sexta-feira (05/out/2012), a Eletrobras, que luta para não falir de vez, resolveu apertar o cerco. Em plena safra, mirou o alicate para as usinas e parou a moagem de cinco devedoras. Ao todo, 26 prédios, como escritórios e galpões, ficaram sem energia.

A primeira que teve o fornecimento cortado foi a Usina Seresta, que pertence ao governador Teotônio Vilela Filho (PSDB). Na lista dos 100 consumidores mais endividados da Eletrobras, ela está no topo, com a maior conta de energia não paga: R$ 30,5 milhões de débito acumulado desde 1997. Instalada na cidade de Teotônio Vilela, a usina ficou no escuro.

O segundo consumidor que mais deve à Eletrobras é a Usina Cansanção de Sinimbu, em Jequiá da Praia. Fundada em 1893, está desde 1951 até hoje sob o comando da família de empresários Silveira Coutinho. Há 15 anos, a usina tem débito de R$ 20,7 milhões de energia elétrica.

Débitos se acumulam desde o Plano Cruzado

Em 1986, o então presidente da República José Sarney sancionou o Plano Cruzado, que congelou os preços de bens e serviços no Brasil, entre outras medidas.

De acordo com o diretor comercial da Eletrobras em seis Estados do Norte e do Nordeste, entre eles Alagoas, Luiz Armando Crestana, a partir daí, começaram a surgir os questionamentos dos usineiros.

“Um dia após o lançamento do Plano Cruzado, as tarifas de energia foram reajustadas. As usinas acionaram a Justiça para não pagar as contas, já que os preços haviam sido congelados”, explicou ele.

Em 1991, o Poder Judiciário emitiu as primeiras liminares em favor dos usineiros. A cobrança do reajuste seria indevida. “Nove meses depois do Plano Cruzado, foi publicada uma portaria com novas tarifas de energia elétrica. Então, as usinas alegam que neste período de nove meses, os preços cobrados foram indevidos”, afirmou o diretor comercial da Eletrobras.

TJ intervém para negociar os pagamentos

A esperança de um acordo reuniu, na manhã da última quarta-feira (10/out/2012), as usinas devedoras de energia elétrica e diretores da Eletrobras. O encontro dos caloteiros com a empresa credora foi diante do presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas, desembargador Sebastião Costa Filho. Do lado direito do magistrado, os usineiros caloteiros. Do lado esquerdo, representantes da antiga Ceal, que passou a ser mantida pelo governo federal, mas hoje agoniza com a perda de energia e a forte inadimplência.

No ano de 2011, a Eletrobras fechou o exercício com R$ 42 milhões de prejuízo em Alagoas. Determinada a reaver o dinheiro que os usineiros devem desde 1991, a fornecedora de energia elétrica está disposta a perdoar os juros e a correção monetária e ainda parcelar a dívida das usinas. Ao invés dos R$ 128,8 milhões, o que teria a receber após as negociações seria o valor de R$ 72 milhões. O desconto ultrapassaria R$ 56 milhões. Tudo para que os usineiros regularizem de vez a situação.

Seguranças intimidam reportagem

Sexta-feira, dia 5 de outubro. A energia da Usina Seresta é desligada por falta de pagamento. Diante do corte, a direção da empresa emitiu uma nota, criticando a medida da Eletrobras. A usina chamou o corte de “inopinado”, “ilegal” e “arbitrário”.

Manhã de sexta-feira, dia 12 de outubro, uma semana após a interrupção do fornecimento de energia na usina do governador Teotônio Vilela. A Gazeta, para ilustrar esta reportagem, enviou o repórter fotográfico Gilberto Farias para fazer imagens da usina funcionando, depois do restabelecimento da energia, consequência da reunião da última quarta-feira, no Tribunal de Justiça.

Fora da usina, o repórter fotografava a fachada da indústria, quando percebeu, segundo contou, que quatro veículos foram na sua direção. 

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